quinta-feira, 13 de maio de 2010

Da série B

O Tupperware

Falaram que não posso centrar a crônica no meu próprio umbigo, mas hoje decidi não me policiar: confesso que tenho sido egoísta. Falo de um caso que poderá não fazer sentido a mais ninguém, mas conto como se importasse. Espero que pelo menos quem tenha uma avó possa me entender e sorrir, com compaixão por mim ou por ela.

Detesto mesquinharias. Sou tão desatenta a coisa pequena que faz melhor você, meu amigo, desistindo de me mandar um bolo, caso essa possibilidade já tenha passado por sua cabeça.

“Natasha não devolve tupperware”, é o que minha avó está espalhando por aí. Mas se você não tem contato com a sabedoria da velhinha, encarrego eu mesma de alertá-lo: não devolvo.

Primeiro foi um bolo, depois brigadeiros, gentil, vovó. Mas tenho cá minha teoria que antes ela espera pela minha gafe. Não quer me agradar, minha doce vó, quer o gosto de me acordar antes do usual e dizer que tudo desanda em sua cozinha sem os tupperware (qual é o plural de tupperware, meu Deus?).

Juntei os ditos e os meti dentro da bolsa, já imaginando que minha fama de desleixada se agravaria ainda mais pelo fato de estar devolvendo os vazios. Minha avó mora do lado da casa útil, pensei. Não é melhor comprar cinco potes novos por 1,99 a atormentar uma pessoa assim tão desnecessariamente?

Concluí que sim, ainda mais sendo eu a pessoa. Nesse momento passou Aline, que tomou uma vasilhinha da minha mão, menos interessada na história que contaria e mais no som que tirava do plástico.

Se alguém perguntar por mim, diga que fui por aí, levando um violão debaixo do braço. Em qualquer esquina eu paro, em qualquer botequim eu entro. E se houver motivo, é mais um samba que eu faço.

Batucamos as duas todo nosso caminho em direção à segunda aula e quem esbarrou conosco batucou também. Mas ah! nosso som era muitíssimo mais bonito, por que eu tenho avó e um tupperware vazio na bolsa.

domingo, 9 de maio de 2010

Dia das Mães

Muitas marcas em meu peito
E
..S
......Tr
...........I
..............aS

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Assessoria de Imprensa


Se me perguntam o que tenho feito, digo que estou preparando menino. Que me desculpem as outras mulheres e me desculpem os que não concordam, ou que não desculpem, mas isso é coisa muito grande. Digo que é das maiores, de modo que não só fila de banco, mas tudo que é pequeno (comparar detergente, cozinhar feijão, cortar o cabelo) deve ser poupado às grávidas.

Eu não sou daquelas mulheres que vai bater no peito e dizer que trabalhou até a hora do neném, com pé inchado e cabeça nas nuvens. Eu que tenho peito estufado menos de orgulho e mais de sangue e mais de leite.

A sala é pequena e as meninas estão gripadas. Não devo ficar perto da gripe, por recomendação do médico. E só devo ficar perto de quem realmente gosta de mim por que pior que gripe é mau olhado.

Mas a verdade é que acredito no santo forte e não acredito que viajar para a Itália é lá notícia que se dê. A verdade é que escrever texto é fila de banco. É coisa pequena para quem está preparando menino.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Colocar nome em filho

_Vai se chamar Berenice – respondi à médica que girava aquele trem gelado na minha barriga

_Graças a Deus, não vai – disse ela, que não gostou do nome.

Meu marido deu um salto da cadeira, com sorriso orelha a orelha. Explicaram-me, antes que eu conseguisse entender:

_É menino.

....

Por mim coloco Benedito, mas o coro da galera “Benedito não, coloca Bento”, e papai sempre categórico:

_Bento que Bento é o Frade.

Minha irmã quer Theo, que significa dádiva de Deus. Mas para mim Theo é apelido de Theobaldo, e eu quase sempre ignoro as sugestões da minha irmã, que sempre vem faltando letra. Enzo, que falta o R; Luca, que falta o S; Nando, que falta uma sílaba inteira; Léo, que falta mais do que tem.

Não é que eu não goste de nome pequeno, aliás, meu preferido é Brás, que considero muito nobre. Rafael diz que é nome de caminhoneiro, pode ser, mas caminhoneiro nobríssimo. Ele quer Omar.

Omar é um homem velho e triste que passou a vida sentindo que faltava alguma coisa, sem perceber que era o S que faltava. E que se existisse, continuaria miserável, o pobre.

Só não fico com Brás, e muito a contragosto, por que significa gago. Então, escolhi Samir.

_Não era menino? –perguntou um amigo, mui ignorante.

Depois me disseram que Samir significa companheiro falante. E eu, que imagino meu filho muito articulado, mas não tagarela, fiquei novamente a chamá-lo menino.